quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

filha da rua
nascida no lixo
abraçou a desgraça
e dançou sobre os cacos
degustou cada pedaço de comida podre
e percebeu que lixo é pessoal
encarou toda face dissimulada
numa falsa expressão de clemência
e jurou ser esquecida por Deus
derramou sangue tentando encontrar vida
no que ouvia nas calçadas imundas dos palácios de ouro
mulher de ventre sujo
que aprendeu a ser rainha
chamavam-a de puta
porque não sabiam quem era
se soubessem
haveriam melhores codinomes
viveu feliz
se orgulhava de quem era
 porque no lixo, é que ela fez seu trono.




indagou aos céus e a terra
se levou pelo vento
e se sentiu a pele queimar
mergulhou no mais profundo rio
e quis se perder por lá
achar respostas para o turbilhão que o acompanha
ouviu um canto vindo de longe
e sentiu gotinhas de água salgada caindo sobre sua testa
agradeceu e soube
então se pôs a rezar pela árvore majestosa
sobre nossas cabeças

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

me banhe em tuas águas
e me afague em teus seios
me cubra com teu ouro
e me mostre o curso do rio
me ensine teus mistérios
ligue minha cabeça a você
através de um fio de ouro
tênue e brilhante


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

tem carne em toda parte
pacotes de sangue em sacos descartáveis bem coloridos
caracterizados de acordo com a data de validade
valor e sabor

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

não tem pé
nem cabeça
não centro
canto ou beirada
caminho ou trilha
ta desconexo
evasivo
inscrito
transpira
salpica
la vida
ta fraco
vazio e febril
sangue ralo
e pé dolorido

espirito definha
alma inspira
o corpo
não respira

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

hoje ta tudo dendê
a pele queima
e os olhos se fecham
ao fitar o clima vermelho laranja da cidade
hoje o povo estremece
a cada voz e ruído
que ultrapassa o espaço limite
do eu e a sanidade
hoje tem fogo em toda parte
a beleza se fora
inocência
silêncio
hoje
é dia
a noite
é vida
meu pai e minha mãe
dançam sobre as chamas
e exercem suas forças sobre esse povo