sexta-feira, 29 de julho de 2016

moça mulher
mulher garota
rapariga moleca
peregrina
ela não vem de longe 
mas já percorreu longos caminhos
e nem pensa em se cansar
muito menos em parar
a peregrina descobriu que em seu caminho
suas andanças
sua estrada
é onde ela pode deixar pra trás, purificar-se, emponderar-se 
e ela é ótima em se desprender
deixou pra trás a castidade e a culpa
o medo e a servidão
deixou coisas
caixas e mais caixas
esqueceu pessoas
aos poucos se livrou até de seu nome
que já não cabia mais naquela que renascia
como uma fênix
mudou a cor do cabelo como quem troca de roupa
vermelho laranja loiro verde
 ou qualquer outra coloração que fosse possível passar pra sua cabeça
se livrou do sutiã
junto com a vergonha
e as vezes deixou as outras roupas pra trás também
se aventurou em caminhos imaginários
 desgrudou-se do ventre e dos seus
abandonou o rancor e a amargura
se livrou de idéias ideais
dona de sua própria história
ovelha sem dono
mulher sem macho
peregrina.


terça-feira, 21 de junho de 2016

ta todo mundo com pressa
de chegar a lugar algum
falando pelos cotovelos
pra não ouvir coisa alguma
o começo ta acabando cedo
e o fim já até se foi
agora fica só eu aqui
olha pra trás enquanto o rebanho vai.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

nossas cabeças um dia tão leves
só sabiam olhar para o céu
e girar enquanto a chuva caia
agora carregam o peso de um mundo nas costas
peso que nos acanha
e por vezes entristece
nossos sorrisos largos
vindos das coisas mais bobas
agora não tem a mesma força
e as nossas paixões
que ferviam o corpo
e piravam a cabeça
agora piram a cabeça até demais
não somos mais os mesmos
e nunca quisemos ser
só não imaginávamos falar com melancolia
dos tempos que tudo parecia tão vazio e sem sentido
quando na verdade tínhamos tudo que poderíamos querer
não foi por falta de aviso, mas sabíamos que tínhamos que experimentar isso também
passaram tempos, passam anos
e nós endurecemos
e nos amolecemos
juntos
fizemos os cortes e as suturas
traçamos os caminhos e fechamos portas
rasgamos a pele e queimamos as folhas
mas ainda sim, juntos
que possamos recuperar a agridoce alegria que intensamente vivemos
que não deixemos as amarguras nos amargar
porque nossa alma é doce, mesmo que o mundo seja fel

terça-feira, 17 de maio de 2016

não é loucura de artista
ou trapezista
não é desvaneio poético
ou filosófico
não é sinestesia doce
ou sagrada
não é autodefinição
ou autofelação

É o corpo rasgado
é peito ardente
língua suja
pulsar de olhos
São lágrimas de gozo
lacrimosos dias
cabeças nebulosas
É uma prisão
é libertação
sem saída
São os pelos que se espetam
os agudos dos sonhos
a espinha que grita

É o sol que nunca vem.