sábado, 18 de janeiro de 2020

não tem pingado mais aqui dentro
pingava
mas transbordou
viro cachoeira
e agora de mim vem a correnteza
tromba d'água
redemoinhos moindo espinhos
talhando caminhos
de encontro as minhas pororocas
inundando e lavando o que deve ser afogado
voçorocas nesses concretos fundandes findantes
com o de antes
de agora
e lá,
e aqui, sob meus pés afundados
em todo momento
rio e então, sorrio
imparável
incessável
irreprimível
incontável
interminável
o dilúvio começou
e eles vão queimar.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Vejo cores emotivas em cada quadrado redondo espinhado
Carismáticas e sorridentes
As cores pairam
E me embalo
Mas aí  me cego
Enceguesso para o para além
Dos olhos boquiabertos
E invariáveis
Cuidadosamente
Recolho, lavo, hidrato
As cordas vermelhas que irrigam meu olhar
Colo, amarro, costura
A retina não retida
Que fluí
Entre o que há ou é
E novamente consigo enxergar
Todas cores em mim
"a doutora está mais louca que os pacientes"

somos loucas então?
essa pergunta que zombeta minhas ideias, pode ser respondida por essa moça?
será que é o que as outras pensam?

"a doutora está errando tudo"

ser louco é errar?
ou loucos erram?
achava que todos erravam

será nós os errantes?
será que errei
ao nascer em um ninho
que não me cabe

ta tudo errado
(mas ta tudo certo)

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

se um nó me fisga trato logo de desembaraçar
e quando sou a primeira a perceber o desvio
dou o grito para acharmos o rumo
bate logo o desespero
será caótica essa visão?
com quais propriedades nas ambiguidades posso falar?

não quero estar a frente ou ser quem corta o cordão
não admito carregar o peso concreto dessas estruturas
meus tortos ossos mal sustentam minh'alma
essa carcaça cansada precisa de sossego
por um dia, um minuto, um instante que seja

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

tem sempre um choro engastanhado aqui
na ponta da língua
no topo da garganta
é só firmar o olhar
que ele vem

por vezes passeio por memórias
e vem aquele caldo salgado
banhando os olhos
com o choro contido de outrora
me inundo

é ligeiro e passageiro
porque parece que ainda não sei chorar
ainda que sempre esteja aqui
essa correnteza
barrada, velada, guardada

talvez se fosse chorar tudo que não chorei
se fosse chorar por tudo que me fere
jamais pararia
sem cessar o desaguar
transbordaria a reviria
enquanto ria,
enquanto ia, enquanto vinha
choraria
desabaria
dilúvio

todo o mundo ia se encharcar
com o pus translúcido que nutre minh'alma

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Quem nunca experimentou o beijo doce e molhado da insanidade não pode brindar pela saúde e prosperidade desse mundo. Entenda esses traços coloridos que delimitam nossos corpos e se tornará parte do grande jogo de azar que não há como perder e a propósito, também não há como ganhar. Junte suas merdas, marque o tempo, finja bem e tudo estará a salvo, exceto quando estiver são, não há quantidades seguras para a utilização desse estado.

domingo, 6 de outubro de 2019

Ajagurá


garota malanda profana
ela vai chegar
Ela vai, ela vai te afogar

Dendê, fazê o quê
é assim que é, quando ela quer
bebê, é o seu dever, olhar para ela
você você você e ela, você e ela, você é ela

e olha só o brilho doce, que brilho doce
que vem com ela
que guerra mais gostosa de se guerrear
Insanamente amar
agora e já, agora e lá
Ajagurá

amor é sua nova estrada
amor é a sua batalha
amor é seu carma