sábado, 5 de novembro de 2016



que os corações se aqueçam
em amor ou ódio
que a alma seja aura cristalina
dos entorpecentes sentimentos
que se vela em silêncio
enquanto cavam fundo
rumo ao fim de ti

terça-feira, 25 de outubro de 2016




Tentei rezar
tentei parar
pedi arrego
levantei a mão
disse não

mudei caminhos
comi espinhos
e sangrei até aprender

criei asas
mas não voei

meus pecados
minha cura
foi entrega 

sou o caos
sou curto circuito mental

freeaks must hide,
they said, but I will not.

sábado, 15 de outubro de 2016

beijo

beijo grande
molhado
no mundo girante
que tirava o equilíbrio
do malabarista a brincar com a fruta
enquanto salivava a boca profana
tentando não cair
agarrando-se firme a arvore sagrada
que esquentava seu peito
e sussurrava a língua da terra
despertando a demência esquecida

fecharam-se as portas
e o giro, parou
os pés seguiram e a noticia não se espalhou
os frutos caíram e apodreceram
em meu coração, floresceu

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

quem diria que o amor vem de onde menos se espera
eu, desacostumado a amar
não percebi, na verdade me irritei
olhei pros lados, fingi não ver
no meio da tormento, você só quer sair
e minha tormenta era o amor, o mais verdadeiro
amor da origem
a que me colocou neste mundo
com os cuidados de quem escreve uma carta
detalhando cada pedaço de sua vida incluindo a semente
que germinaria nesse turbilhão
não sei se isso estava nos planos
não me proponho a cumpri-los
mas clareou-me a mente
dourado que antes via
não era real
desbotou-se com o passar do rio e das águas
o ouro está em meu peito
em mim
no que a minha Mãe nutriu
semeou, cuidou do florescer
e celebrou a vida.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

domingo, 21 de agosto de 2016

a gente mata todo dia
só eu já matei três
o primeiro matei por acaso
hoje matei mais um
amanhã vou morrer.
Notícias de cá

doente é quem se mantém são
duro é aquele que chora
Entorpecer-se é a mais sincera oração.

o moço na esquina não sabe quantos passos vai dar
a moça teme a escuridão
onde o garoto a muito se perdeu.
A esperança morreu.

os dedos cansados estão sempre a se cansar
e a cabeça pende pra frente, esquecida ali.
Trabalho não é mais trabalhar.

há vozes que brandam, gargantas que se embaraçam.
em meio a tantos aflitos.
Pastor bom grita alto.

não há mais origem
não há notícias por vir.
Essas notícias são (a)deus.



sexta-feira, 29 de julho de 2016

moça mulher
mulher garota
rapariga moleca
peregrina
ela não vem de longe 
mas já percorreu longos caminhos
e nem pensa em se cansar
muito menos em parar
a peregrina descobriu que em seu caminho
suas andanças
sua estrada
é onde ela pode deixar pra trás, purificar-se, emponderar-se 
e ela é ótima em se desprender
deixou pra trás a castidade e a culpa
o medo e a servidão
deixou coisas
caixas e mais caixas
esqueceu pessoas
aos poucos se livrou até de seu nome
que já não cabia mais naquela que renascia
como uma fênix
mudou a cor do cabelo como quem troca de roupa
vermelho laranja loiro verde
 ou qualquer outra coloração que fosse possível passar pra sua cabeça
se livrou do sutiã
junto com a vergonha
e as vezes deixou as outras roupas pra trás também
se aventurou em caminhos imaginários
 desgrudou-se do ventre e dos seus
abandonou o rancor e a amargura
se livrou de idéias ideais
dona de sua própria história
ovelha sem dono
mulher sem macho
peregrina.


terça-feira, 21 de junho de 2016

ta todo mundo com pressa
de chegar a lugar algum
falando pelos cotovelos
pra não ouvir coisa alguma
o começo ta acabando cedo
e o fim já até se foi
agora fica só eu aqui
olha pra trás enquanto o rebanho vai.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

nossas cabeças um dia tão leves
só sabiam olhar para o céu
e girar enquanto a chuva caia
agora carregam o peso de um mundo nas costas
peso que nos acanha
e por vezes entristece
nossos sorrisos largos
vindos das coisas mais bobas
agora não tem a mesma força
e as nossas paixões
que ferviam o corpo
e piravam a cabeça
agora piram a cabeça até demais
não somos mais os mesmos
e nunca quisemos ser
só não imaginávamos falar com melancolia
dos tempos que tudo parecia tão vazio e sem sentido
quando na verdade tínhamos tudo que poderíamos querer
não foi por falta de aviso, mas sabíamos que tínhamos que experimentar isso também
passaram tempos, passam anos
e nós endurecemos
e nos amolecemos
juntos
fizemos os cortes e as suturas
traçamos os caminhos e fechamos portas
rasgamos a pele e queimamos as folhas
mas ainda sim, juntos
que possamos recuperar a agridoce alegria que intensamente vivemos
que não deixemos as amarguras nos amargar
porque nossa alma é doce, mesmo que o mundo seja fel

terça-feira, 17 de maio de 2016

não é loucura de artista
ou trapezista
não é desvaneio poético
ou filosófico
não é sinestesia doce
ou sagrada
não é autodefinição
ou autofelação

É o corpo rasgado
é peito ardente
língua suja
pulsar de olhos
São lágrimas de gozo
lacrimosos dias
cabeças nebulosas
É uma prisão
é libertação
sem saída
São os pelos que se espetam
os agudos dos sonhos
a espinha que grita

É o sol que nunca vem.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Minam dos meus olhos a verdade jamais dita
que corre lentamente cada traço do rosto áspero
mutilado por olhos afiados
amaciado por línguas suculentas

Corre em meu corpo
o calor da arma que matou o inocente
da criança que brinca sob o sol
do mulato que carrega o senhorio

Tenho em mim uma esperança mórbida
inocente e patética
O desamor de dez mil vidas
e o vicio de voar.

domingo, 13 de março de 2016

                                            solidão
"Nos últimos dias venho me indagando o porquê da palavra "solidão" vir sempre com um teor de tristeza ou infelicidade, como se fosse algo ruim e não se pode evitar, tão ruim quanto pobreza. Começo a ver agora outros ângulos pra essa tal "solidão" e ela não é tão ruim, nem tão cruel, nem se quer tediosa, apesar que o processo para revogar essa ideia é demorado (para algumas pessoas, nem tanto), mas quando acontece é incrível, você começa a perceber aos poucos como pode ser bom estar sozinho e ser solitário, obviamente, isso não inclui se abstrair totalmente da presença do outro (bem difícil fazer isso), mas sim escolher quando ir até o outro, em um bom momento para ti. É isso, solidão é escolha, opção, modo de viver. Uma escolha que pode parecer egoísta e até sinônimo de um ego rechonchudo, mas para mim é sobre se gostar, se curtir, sabe conviver contigo mesmo, se entender, se fazer companhia e é impressionante como você se torna um melhor outro para o outro assim, depois de saber que você é aquele alguém que está em você e é ele que você tem que amar e colocar em primeiro lugar. É, solidão é escolha, mas também é valorização pessoal, uma vez que assim que começa a entender a solidão percebe também o quão abusivo e destrutivo pode ser o outro, fazendo companhias dispensáveis que te deixam pra baixo, te torcem os pensamentos e te privam de olhar pra dentro. Experimente ficar dias e dias sempre na presença de um alguém, não importa quem seja: você vai se esquecer, te deixar de lado, sua alma vai se encolher delicadamente e se esconder. Você só vai sentir a agonia.
Encontrei o prazer da solidão, de estar comigo e estar bem, também de estar comigo e estar mal, mas só eu vou lidar com isso e sou responsável. Encontrei meu bem querer, minha rotina pessoal, meus gostos esquecidos, minha essência. A solidão pode ser inquietamente barulhenta ou agonizantemente silenciosa, a menos que você toque a musica que irá embalar sua alma."
valentina spectro

terça-feira, 1 de março de 2016

E em um "click"
desaba tudo que conheço sobre mim
rasga minha pele
destrói meu casulo
e vem a tona meu lado mais sensível e juvenil
uma borboleta colorida
frágil como minha alma
que chorosamente voa
flutua
sem direção
apenas livre

Dois anos atrás meu coração batia mais forte
experimentava a insana sensação de se sentir apaixonado
se fecho os olhos agora posso me recordar da sensação
que de tão forte comprimia meus pulmões e fazia faltar o ar
me fazia feliz como uma criança
com um sentimento tão inocente e verdadeiro
bem, nós sabemos o resto da história
e agora acho que sei
que isso não se repetirá,
não dessa forma
não nessa intensidade.
porque vejamos, olha o que me tornei...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

o choro explode
a cara entorta
e essa lágrima que não cai?
os olhos já em chamas
meus pensamentos vagueiam cegos
topando com cada monstro que aprisionei aqui
e essa lágrima que não cai?
um gole aqui, um gole ali
quem sabe agora?!
mas só a garganta se fecha
o coração da nó
e essa angustia que me agarra.

como um rio
me guio ferozmente
não há nada que me pare
e por trás de toda malicia da água
e da turbulenta passagem entre rochas e árvores
há a sensibilidade tão temida
sobre a matéria que facilmente se abala
com um toque, um carinho, uma invasão
por vezes machuca, amedronta e irrita
respostas sempre superficiais
deste rio, ninguém conhece as profundezas
e nem se atreve a conhecer.
de ouro fui feito
e na água do rio me banhei

rainha tu és
teu reinado é de bondade

manhãs de sol
raios de vida

coragem e justiça
a força emposta ao metal

minha alma e meu corpo já não me pertencem
sou d'Oxum

novamente entrelaça meus pensamentos
essa grudenta melancolia
minha garganta mais um vez se fecha
e engasgo
com todo choro contigo
de toda penosa existência
de todo cansaço mental
e apodrecimento do corpo
que definha
enquanto a alma, parece elevar-se
e agonizantemente, se prende
é o velho preto e branco
vida e morte
lá e cá
tão cotidiano em mim.