quarta-feira, 18 de maio de 2016

nossas cabeças um dia tão leves
só sabiam olhar para o céu
e girar enquanto a chuva caia
agora carregam o peso de um mundo nas costas
peso que nos acanha
e por vezes entristece
nossos sorrisos largos
vindos das coisas mais bobas
agora não tem a mesma força
e as nossas paixões
que ferviam o corpo
e piravam a cabeça
agora piram a cabeça até demais
não somos mais os mesmos
e nunca quisemos ser
só não imaginávamos falar com melancolia
dos tempos que tudo parecia tão vazio e sem sentido
quando na verdade tínhamos tudo que poderíamos querer
não foi por falta de aviso, mas sabíamos que tínhamos que experimentar isso também
passaram tempos, passam anos
e nós endurecemos
e nos amolecemos
juntos
fizemos os cortes e as suturas
traçamos os caminhos e fechamos portas
rasgamos a pele e queimamos as folhas
mas ainda sim, juntos
que possamos recuperar a agridoce alegria que intensamente vivemos
que não deixemos as amarguras nos amargar
porque nossa alma é doce, mesmo que o mundo seja fel

terça-feira, 17 de maio de 2016

não é loucura de artista
ou trapezista
não é desvaneio poético
ou filosófico
não é sinestesia doce
ou sagrada
não é autodefinição
ou autofelação

É o corpo rasgado
é peito ardente
língua suja
pulsar de olhos
São lágrimas de gozo
lacrimosos dias
cabeças nebulosas
É uma prisão
é libertação
sem saída
São os pelos que se espetam
os agudos dos sonhos
a espinha que grita

É o sol que nunca vem.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Minam dos meus olhos a verdade jamais dita
que corre lentamente cada traço do rosto áspero
mutilado por olhos afiados
amaciado por línguas suculentas

Corre em meu corpo
o calor da arma que matou o inocente
da criança que brinca sob o sol
do mulato que carrega o senhorio

Tenho em mim uma esperança mórbida
inocente e patética
O desamor de dez mil vidas
e o vicio de voar.