sexta-feira, 29 de maio de 2015

essa noite me cobri com a barra da saia da noite.
queria ter um abajur 
sempre quis 
um abajur a beira da cama de luz branca 
sempre imaginei como seria
 sempre imaginei que ao me deitar para dormir teria alguns minutos de contemplação sob luz daquele abajur 
contemplação sem interrupções 
sem a caminhada preguiçosa para apagar a luz do quarto e retornar ao lençol com a ideia de que o dia acabou
 com o abajur, o abajur que sempre quis seria possível estender esse período do dia lendo um bom livro fitando o teto rebobinando o dia na cabeça
 porém a verdade é que eu percebi que talvez nunca tenha um abajur
 pois no escuro do findar do dia tenho algum momento de consciência cega de olhar para o negro não olhar ou realmente olhar o abajur aumentaria a ânsia por ver por iluminar
 e eu sei que a escuridão também me alimenta talvez até mais que a luz do sol 
e com certeza mais que a luz fraca do abajur que talvez jamais terei

domingo, 10 de maio de 2015

fu*ja*

não confio a ti minhas chaves
não entrego a ti meu braço, em meus passos cegos
não me enamoro aos seus ouvidos, quando finalmente preciso falar


culpei-o
culpei-me
culpei o tempo
culpei o dia
a doença
a vida
a amargura
culpei até a culpa
num prazer sádico de me enganar
culpei tudo e todos
pelo peso que carrego no peito e nos ombros
pelas amarras nos dedos
a sujeira das veias
e os caminhos sem rumo.

nada
vazio
lacrimejante
desfalece
envelhece

um pouquinho de paz e afeto
carinho velado
sorriso de graça
angústia rasteira
calor na orelha
tilintar de dedos
balançar de pernas
parar de tempo
em tempo
é medo
acidez eufórico
disforia
sintonia.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

expurgo

tolo
eunuco
babão
pedaço de carne desprendido no tempo-espaço
eu te detesto em todas pequenas coisas
a principal delas
me fazer te detestar
tal sentimento me irrita e me enoja
mas por você
insisto em conservá-lo

pense menos, veja menos, saiba menos, fale menos
flutue e expire
inspire e suspire
sem sussurros, ruídos
trepidações
seja pequeno e silencioso
caminhe em passos lentos e espaçados
aprende!
aprende a não ensinar
não mostrar
não anunciar
aprende a não entender
a deixar passar
a deixar rolar
controlar o que não se controla não tem graça
saber o que não se poder mudar é sofrer
falar pra quem não quer ouvir é perca de tempo
faça seu feitiço com portas fechadas.

domingo, 3 de maio de 2015

ijexá

ritmo de encanto
sedução
o ardil de minha mãe
é traduzido em passos lentos
e sorrateiros
na delicadeza do movimento das mãos
e no arrastar dos pés
ritmo que ensina
a ser água
fluído
conquista
feitiço