sexta-feira, 9 de outubro de 2015

por vezes relembrar
estudar o dossiê eu
crime 1995
por vezes rolar
barras
por vezes passar
páginas
por vezes

melancolia

terça-feira, 8 de setembro de 2015

é de mulambê
é de mulambá
sua saia de retalhos
teus cacos largados pelas encruzas
teu ponto riscado
o canivete manchado de vinho seco
as jóias não-preciosas de tanto valor
os homens que amou desamando
os caminhos que trilhou
tem história pra contar.

domingo, 5 de julho de 2015

são tantas as tristezas e mágoas acumuladas
tantas as rachaduras nessa alma velha e ressecada
são histórias que não quero contar
momentos que não ouso lembrar
o mundo parece querer me expulsar
como um corpo estranho nesse organismo vivo e pulsante
sem espaço para sentimentos tão frágeis quanto meus olhos
que facilmente derrubam lágrimas

terça-feira, 16 de junho de 2015

possível utopia

que não hajam olhares pesados
ombros caídos
cabelos tristes
que não hajam gritos estéricos
palavras de desamor
águas sujas

que os corações estejam sempre vivos
as flores sempre belas
os lábios sempre úmidos
que a cabeça mantenha-se erguida
com orgulho de ser
e ligada ao que é maior que todos nós
amor.


terça-feira, 2 de junho de 2015

não me disseram que eu tentaria desistir
que perderia o sentido
e que os caminhos fugiriam o meu controle
não me disseram

sexta-feira, 29 de maio de 2015

essa noite me cobri com a barra da saia da noite.
queria ter um abajur 
sempre quis 
um abajur a beira da cama de luz branca 
sempre imaginei como seria
 sempre imaginei que ao me deitar para dormir teria alguns minutos de contemplação sob luz daquele abajur 
contemplação sem interrupções 
sem a caminhada preguiçosa para apagar a luz do quarto e retornar ao lençol com a ideia de que o dia acabou
 com o abajur, o abajur que sempre quis seria possível estender esse período do dia lendo um bom livro fitando o teto rebobinando o dia na cabeça
 porém a verdade é que eu percebi que talvez nunca tenha um abajur
 pois no escuro do findar do dia tenho algum momento de consciência cega de olhar para o negro não olhar ou realmente olhar o abajur aumentaria a ânsia por ver por iluminar
 e eu sei que a escuridão também me alimenta talvez até mais que a luz do sol 
e com certeza mais que a luz fraca do abajur que talvez jamais terei

domingo, 10 de maio de 2015

fu*ja*

não confio a ti minhas chaves
não entrego a ti meu braço, em meus passos cegos
não me enamoro aos seus ouvidos, quando finalmente preciso falar


culpei-o
culpei-me
culpei o tempo
culpei o dia
a doença
a vida
a amargura
culpei até a culpa
num prazer sádico de me enganar
culpei tudo e todos
pelo peso que carrego no peito e nos ombros
pelas amarras nos dedos
a sujeira das veias
e os caminhos sem rumo.

nada
vazio
lacrimejante
desfalece
envelhece

um pouquinho de paz e afeto
carinho velado
sorriso de graça
angústia rasteira
calor na orelha
tilintar de dedos
balançar de pernas
parar de tempo
em tempo
é medo
acidez eufórico
disforia
sintonia.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

expurgo

tolo
eunuco
babão
pedaço de carne desprendido no tempo-espaço
eu te detesto em todas pequenas coisas
a principal delas
me fazer te detestar
tal sentimento me irrita e me enoja
mas por você
insisto em conservá-lo

pense menos, veja menos, saiba menos, fale menos
flutue e expire
inspire e suspire
sem sussurros, ruídos
trepidações
seja pequeno e silencioso
caminhe em passos lentos e espaçados
aprende!
aprende a não ensinar
não mostrar
não anunciar
aprende a não entender
a deixar passar
a deixar rolar
controlar o que não se controla não tem graça
saber o que não se poder mudar é sofrer
falar pra quem não quer ouvir é perca de tempo
faça seu feitiço com portas fechadas.

domingo, 3 de maio de 2015

ijexá

ritmo de encanto
sedução
o ardil de minha mãe
é traduzido em passos lentos
e sorrateiros
na delicadeza do movimento das mãos
e no arrastar dos pés
ritmo que ensina
a ser água
fluído
conquista
feitiço

domingo, 5 de abril de 2015

parou e disse
o quanto o universo é bom
essa fala me incomodaria um pouco tempo atrás
parece improvável ouvir isso
de qualquer um que por aqui habita
mas hoje, depois de algum de tempo de assimilação
dessa dissonante forma de ser, falar, pensar e flutuar
sorri e concordei
me felicitei com tal afirmação
deixei de lado os porém
afinal, tristeza todos tem
eu tenho
sei que ele também
mas é só esfregar ela
deixar bem limpinha
que vira amor
vira alegria
tristeza  é a alma mal lavada
é por isso que a mãe das águas habita meu ser
e hoje eu deixei seus rios seguirem.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

hoje certa repulsa me tomou o corpo
cansado do mesmo falatório
da mesma cara descaída de cansaço
do mesmo estresse natural
cansado da opressão de sentidos
dos zombeteiros astutos
palhaços inchados
me fiz então
solitário
medida emergencial
que oferece uma zona de transição
espaço para transformar e expurgar
para logo adentrar novamente, eu sei
mas isso é sobrevivência
isso é ser.

terça-feira, 31 de março de 2015

só por hoje
resolvi saber como é
viver só pelo agora
pelo hoje
só por hoje descobri como é
agir como você
e prometer
dizer
saltar
e abortar
o tempo me ofereceu essa margem
é hoje
é agora
e meu comprometimento é só com ele
o hoje
o agora

peço perdão ao mundo por experimentar tamanha crueldade.

me faço estático
mascarado pela cara de pensador
ao me deparar com o repentino repetir
incessante e procrastinante
destino
prometo otimismo e carisma
abraços e beijos
cutucões e pertubações
sorrisos e gargalhadas
prometo retomar

tem desenhado nos caminhos de tua liberdade um grande e gorduroso empecilho 
você
perco o rumo
perco a vista
perco a vida
até a piada

subo alto
subo no altar
subo rápido
até sem querer

saio por aí
saio por lá
saio sem falar
até encontrar

falo sempre
falo muito
falo alto
até de mais.

sexta-feira, 27 de março de 2015

a mesma língua que busca caminhos pelo corpo
que explana cada pedaço de pele
encontros e desencontros de ossos
é a língua que por vezes se cala
e faz do silencio uma arma mortal
é a língua que conhecedora como é
usa de movimentos cruéis 
para despertar na vítima o profundo sentimento de dor
línguas venenosas e ardentes
calorosas e indecisas
são línguas que quase se cortam com os dentes
que se despedem da boca e invadem um outro
línguas rosadas que encontram sabor em tudo
até mesmo nas palavras
e delas fazem seu triunfo


segunda-feira, 23 de março de 2015

os segredos estão contidos em seus sorrisos malandros
em teus caminhos sem ruas, sem atalhos
a pedra que outrora  fora lançada
agora impede minha passagem
dias não se passam
o movimento continua.


Me escapa as mãos tanta coisa
Tanta gente
Tanto jeito
Tanto preço
Me dói os olhos essa doidura
Esse desatino
Esse barulho visual
Me faz tontear
Me bagunça todo
Esse todo

tão grande e macilento

segunda-feira, 2 de março de 2015

renúncia

deixei as aspas pra trás
dei um passo a frente
com o corpo ereto
expus meus olhos a luz de ser

29 de Março de 2012

Subestimam sua capacidade, colocam barreiras em seus sonhos, as imagens te machucam e você tem que estar de pé. Mas tudo cansa.
6 de Fevereiro de 2012

Em busca de um novo refúgio chamado silêncio
2 de Janeiro de 2012

A luz me cega a naturalidade e me faz almejar o que não é meu.
Essa luz já não estará mas aqui quando o ultimo suspiro de insegurança sumir.
Não tenho o futuro em minhas mãos.
10 de Janeiro de 2012

A fuga da realidade é o melhor enquanto o cego não vê, o surdo não ouve, e o estúpido não pensa.
5 de Dezembro de 2011

O monstro logo será morto, o mocinho ficará com a mocinha, e esse será mais um final feliz.

domingo, 1 de março de 2015

feitiço

és tão pobre e sujo
dissimulado em teus sorrisos amarelos
sob uma capa perfeita
de um demônio de asas
que me desperta o tesão mais podre


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

ao coração aflito

carrego no corpo o branco
arrepio
e me encho de lágrimas
quando me preencho dentro do barracão
tal emoção se faz estranha ao meu corpo
que a muito não se energizava dessa forma
meu peito bate forte
o toque batuca minha cabeça
e me admiro ao perceber que aquilo
era o que os orixás me deram
me deram fé
coisa que nunca tive
e sempre almejei incessantemente
é com essa fé que tento ser o melhor
para eles, por eles
por mim
meu corpo é orixá
meu amor é orixá

Que eu consiga encher o mundo de brilho e paz com a força do axé!

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Divergente

entre uma baforada e outra
me vejo confortável
num lugar proibido
e é nesse momento que sou audacioso 
baixo a guarda 
esqueço que qualquer entrada abrupta sala adentro
representaria um flagra
logo, com o devido julgamento
estaria eu condenado
dentro do meu consciente racional
duvido disso
palavras ainda são suficientes para criar um álibi
assim, continuo no plano sem planos
com um incomodo dentro de mim
por não ser franco comigo
mas sei que é necessário
para que mantenha o momento
eu sou o invasor
me abnego em prol da paz do local 
relaxo os músculos
deixo de lado o turbilhão de eu
ofereço o colo
apago as luzes
sou amigo.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

10 de outubro de 2014


Hoje uma bolha de sabão flutuou perto de mim
Não a estourei

Nem se quer dei a devida atenção à aquela bolha
Transparente
Mas que reluz todas as cores
naquele momento

Esqueci de ser criança
Esqueci o que é não sentir medo

De tropeçar
Cair
Se estabacar
Esqueci de me lambuzar com aquela manga
Esqueci da inocência dos banhos de mangueira
Dos embaraçosos momentos em que estar no meio de certos assuntos de adultos, era errado
Esqueci de não me preocupar e de me ocupar
Até mesmo com prendedores de roupa e tampinhas de garrafa
Esqueci de sorrir enquanto corro
Ou simplesmente sorrir
Acho que esqueci até de correr
Apenas correr
Esqueci do meu pequeno eu
Gorducho e entrometido
Que falava demais
destribuia beijos nas bochechas de vovó, mamãe ou quem mais estivesse por perto
Tinha esquecido até de me lembrar como é bom ser criança.

11 de outubro de 2014


Não brinque com fogo

Dizia ela
Vai fazer xixi na cama a noite
E aquela ameaça a vergonha do garoto
Era suficiente para faze-lo afastar daquela fogueira a beira do rio
que esquentava aqueles corpos retraídos
Avulsos no meio de tanto mato
O garoto afastou-se
Mas sua curiosidade pelo fogo nao cessara
Pegava bingas da cozinha e corria para o quintal
Sua fantasia era ser um alquimista do fogo
Estudava o queimar de diferentes folhas e insetos
Arriscava ate cozinhar
Comidas que apenas seus guerreiros de plastico comeriam
Mas mãe sempre diz
Quando cresceres vai saber que eu estava certa
E ele soube bem disso
Agora cozinha 
Mas apavora-se com a ideia de uma chama acessa esquecida
Teme que o forno o engula com tuas chamas imprevisíveis
Preocupa-se ate com um isqueiro no sol
Agora quando queima coisas, logo afaga as chamas com água fria, trazendo a calma novamente
O calor do corpo o deixa desconcertado
Do seu corpo ou de outros
Perde se em si mesmo quando a pele queima de vergonha
De forma tão absurda
Que se sente garoto novamente
O calor das presenças
Das energias
Do álcool
Dos abraços
O deixam realmente assustado
Ele aprendera a lição
Aprendeu a não brincar com fogo
Para não se mijar e seguir, sem embaraços e feridas.


domingo, 15 de fevereiro de 2015

a joia mais preciosa da noite
brilha sob a luz das velas
vibra o olhar ao lembrar de teu amor
e afaga o peito dos seus

sábado, 31 de janeiro de 2015

produz reduz reluz
movimento incessante de dedos tilintando
extradição corporal, processo de evasão emocional espirito-social em momentos de inércia  não-criativa produtiva elaborada
A moça tinha um corpinho delgado
por fora, parecia mais garota que mulhé
mas tinha danura de um búfalo
era bruta
moça difícil de se enfrentar
enfrentava no peito muito caboco bruto
A moça inventou de perambular pela cidade
esbarrou num moço de quatro olhos franzino
a força da mulhé derrubou as lente com arame dele
aconteceu então dos dois sorrir um pro outro
foro então tomar uma cerveja
tão junto agora
três fi
e uma vida feliz.
Deus

sempre se sentiu só
deslocado numa versão louca do que acreditava ser a vida
perdido entre olhares que mais oprimiam do que direcionavam 
sempre achou que devia ser assim
e assim que era
hoje vive em seu peito uma coisa nova
ainda é novo
e frágil
que ele acredita ser fé
fé na mãe das águas
no caçador das matas
nas crianças encantadas
e no grande exu que tanto confia
e abre os caminhos
para ele e sua véia
hoje ele já não é mais sozinho
e sabe que não estará sozinho nunca mais

Deus é bom
e colocou na minha vida
toda minha falange de proteção
axé!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

rosas vermelhas

parou ali do meu lado
soube que nada podia fazer
mas me abraçou e espalhou teu perfume


filha da rua
nascida no lixo
abraçou a desgraça
e dançou sobre os cacos
degustou cada pedaço de comida podre
e percebeu que lixo é pessoal
encarou toda face dissimulada
numa falsa expressão de clemência
e jurou ser esquecida por Deus
derramou sangue tentando encontrar vida
no que ouvia nas calçadas imundas dos palácios de ouro
mulher de ventre sujo
que aprendeu a ser rainha
chamavam-a de puta
porque não sabiam quem era
se soubessem
haveriam melhores codinomes
viveu feliz
se orgulhava de quem era
 porque no lixo, é que ela fez seu trono.




indagou aos céus e a terra
se levou pelo vento
e se sentiu a pele queimar
mergulhou no mais profundo rio
e quis se perder por lá
achar respostas para o turbilhão que o acompanha
ouviu um canto vindo de longe
e sentiu gotinhas de água salgada caindo sobre sua testa
agradeceu e soube
então se pôs a rezar pela árvore majestosa
sobre nossas cabeças

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

me banhe em tuas águas
e me afague em teus seios
me cubra com teu ouro
e me mostre o curso do rio
me ensine teus mistérios
ligue minha cabeça a você
através de um fio de ouro
tênue e brilhante


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

tem carne em toda parte
pacotes de sangue em sacos descartáveis bem coloridos
caracterizados de acordo com a data de validade
valor e sabor

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

não tem pé
nem cabeça
não centro
canto ou beirada
caminho ou trilha
ta desconexo
evasivo
inscrito
transpira
salpica
la vida
ta fraco
vazio e febril
sangue ralo
e pé dolorido

espirito definha
alma inspira
o corpo
não respira

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

hoje ta tudo dendê
a pele queima
e os olhos se fecham
ao fitar o clima vermelho laranja da cidade
hoje o povo estremece
a cada voz e ruído
que ultrapassa o espaço limite
do eu e a sanidade
hoje tem fogo em toda parte
a beleza se fora
inocência
silêncio
hoje
é dia
a noite
é vida
meu pai e minha mãe
dançam sobre as chamas
e exercem suas forças sobre esse povo