quinta-feira, 31 de outubro de 2019

se um nó me fisga trato logo de desembaraçar
e quando sou a primeira a perceber o desvio
dou o grito para acharmos o rumo
bate logo o desespero
será caótica essa visão?
com quais propriedades nas ambiguidades posso falar?

não quero estar a frente ou ser quem corta o cordão
não admito carregar o peso concreto dessas estruturas
meus tortos ossos mal sustentam minh'alma
essa carcaça cansada precisa de sossego
por um dia, um minuto, um instante que seja

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

tem sempre um choro engastanhado aqui
na ponta da língua
no topo da garganta
é só firmar o olhar
que ele vem

por vezes passeio por memórias
e vem aquele caldo salgado
banhando os olhos
com o choro contido de outrora
me inundo

é ligeiro e passageiro
porque parece que ainda não sei chorar
ainda que sempre esteja aqui
essa correnteza
barrada, velada, guardada

talvez se fosse chorar tudo que não chorei
se fosse chorar por tudo que me fere
jamais pararia
sem cessar o desaguar
transbordaria a reviria
enquanto ria,
enquanto ia, enquanto vinha
choraria
desabaria
dilúvio

todo o mundo ia se encharcar
com o pus translúcido que nutre minh'alma

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Quem nunca experimentou o beijo doce e molhado da insanidade não pode brindar pela saúde e prosperidade desse mundo. Entenda esses traços coloridos que delimitam nossos corpos e se tornará parte do grande jogo de azar que não há como perder e a propósito, também não há como ganhar. Junte suas merdas, marque o tempo, finja bem e tudo estará a salvo, exceto quando estiver são, não há quantidades seguras para a utilização desse estado.

domingo, 6 de outubro de 2019

Ajagurá


garota malanda profana
ela vai chegar
Ela vai, ela vai te afogar

Dendê, fazê o quê
é assim que é, quando ela quer
bebê, é o seu dever, olhar para ela
você você você e ela, você e ela, você é ela

e olha só o brilho doce, que brilho doce
que vem com ela
que guerra mais gostosa de se guerrear
Insanamente amar
agora e já, agora e lá
Ajagurá

amor é sua nova estrada
amor é a sua batalha
amor é seu carma
Eu, eu pude sentir, tudo que me deu de graça
Eu, eu recebi, sem ver o quê e fiquei uma desgraça
Não, não, não me culpe agora
Vai, vai, vai chegar a sua hora
vou te dar mais motivos pra odiar

Pode, pode ser que não dê em nada
Mas eu, eu vou fazer tu pagar
 eu vou, eu vou, eu vou me vingar
trago uma rosa espinhada
Te arranco os dentes, na paulada
 dou minha gargalhada
Nem eu, nem você
vale nada

Cê vai sentir, como eu senti
navalhada
cê vai sofrer, como eu sofri
navalhada
E eu, já assumi, já descobri, já aceitei
sou uma desgraçada
Te ver sofrer para mim é uma piada