quinta-feira, 24 de outubro de 2019

tem sempre um choro engastanhado aqui
na ponta da língua
no topo da garganta
é só firmar o olhar
que ele vem

por vezes passeio por memórias
e vem aquele caldo salgado
banhando os olhos
com o choro contido de outrora
me inundo

é ligeiro e passageiro
porque parece que ainda não sei chorar
ainda que sempre esteja aqui
essa correnteza
barrada, velada, guardada

talvez se fosse chorar tudo que não chorei
se fosse chorar por tudo que me fere
jamais pararia
sem cessar o desaguar
transbordaria a reviria
enquanto ria,
enquanto ia, enquanto vinha
choraria
desabaria
dilúvio

todo o mundo ia se encharcar
com o pus translúcido que nutre minh'alma

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